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Afinal, Winnicott é Só para Crianças?

  • Foto do escritor: Psicóloga Simone Santana Gomes
    Psicóloga Simone Santana Gomes
  • 13 de abr.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 14 de abr.

D. W. Winnicott atendendo uma criança

Quando conheci D. W. Winnicott na faculdade de Psicologia achei que a sua teoria não seria para mim, pois eu não tinha aptidão para atender crianças.


Recentemente conversei sobre a minha prática clínica com uma estudante de Psicologia e ela referiu se sentir aliviada em saber que eu atendia adultos tendo como abordagem teórica a psicanálise winnicottiana, pois, assim como eu antes, tinha receio de que auxiliaria apenas atendimentos infantis.


Essa é uma concepção que não vem à toa já que a primeira coisa que aprendemos sobre D. W. Winnicott é que antes de ser um psicanalista, ele foi um pediatra e que nunca deixou de atender crianças.


Na sua formação como médico em 1920, Winnicott já considerava necessária a inclusão dos aspectos psicológicos nos diagnósticos dos distúrbios pertinentes à pediatria. Em 1923, foi admitido como médico assistente no Paddington Green Children’s Hospital, onde exerceu essa função por quarenta anos. Também naquele ano, incluiu a psicanálise em sua formação.


Seu atendimento clínico hospitalar foi gradualmente evoluindo da pediatria para uma psiquiatria infantil de orientação psicanalítica.


Winnicott constatou em seus atendimentos que a maioria dos problemas que fazia as mães levarem seus bebês e crianças para consulta se deviam a perturbações emocionais primitivas. Também percebeu que bebês já nas primeiras semanas de vida podiam estar emocionalmente doentes. Buscou na psicanálise um campo para investigação desses fenômenos, porém logo descobriu que não concordava com a centralidade do complexo de Édipo proposta pela teoria freudiana.


Winnicott foi influenciado pelas ideias de Melanie Klein, de quem reconheceu as contribuições para a psicanálise de crianças, porém acabou por se distanciar de sua linha teórica pela incompatibilidade com seu pensamento. Seu interesse se voltou para a importância do ambiente no desenvolvimento emocional infantil, o que não foi bem aceito pelos seus colegas psicanalistas na época.


Dessa forma, seu caminho seguiu na direção de compreender o início da vida do bebê e como ele pode adoecer emocionalmente, criando sua própria teoria do desenvolvimento emocional normal e suas patologias.


Embora a importância do pensamento de Winnicott para o cuidado de crianças seja inegável, não só para pediatras, psicanalistas e psicólogos, mas também assistentes sociais, professores, pais e mães, ela não se encerra aí.


Para o autor, é na compreensão do desenvolvimento emocional que se encontram as chaves para a compreensão das doenças e imaturidades das quais o indivíduo é passível, especialmente no caso das psicoses. Em suas palavras: "os estados da psique em adultos não podem ser compreendidos sem que se faça referências à infância dos sujeitos a serem investigados" (Winnicott, 1988/2024, página 45).


Essa compreensão das etapas iniciais do desenvolvimento humano permite que a teoria winnicottiana seja também uma ferramenta potente no atendimento de adultos. Muitos sofrimentos psíquicos que emergem na vida adulta — como sentimentos crônicos de vazio, dificuldades relacionais, sensação de irrealidade ou desamparo — podem ser compreendidos à luz das falhas ambientais nos primeiros anos de vida. A escuta clínica, nesse contexto, se volta não apenas para o que o paciente diz, mas também para aquilo que não pôde ser simbolizado, oferecendo, por meio do setting terapêutico, uma nova possibilidade de experiência emocional. Assim, o terapeuta se torna uma espécie de “ambiente facilitador”, ajudando o paciente a reencontrar aspectos de si que ficaram congelados no tempo.


Gostaria de realizar psicoterapia na abordagem winnicottiana, ou, caso seja estudante de Psicologia ou psicólogo, realizar supervisão clínica do seus atendimentos clínicos ou hospitalares nessa abordagem?



Referências bibliográficas


Dias, E. O. (2003). A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro: Imago.

Dias, 2003.


Winnicott, D. W. (1945). Desenvolvimento Emocional Primitivo. In D. W. Winnicott, Da

Pediatria à Psicanálise (cap. 12). Rio de Janeiro: Imago, 2000.


Winnicott, D. W. (1952). Psicoses e cuidados maternos. In D. W. Winnicott, Da Pediatria à

Psicanálise (cap. 17). Rio de Janeiro: Imago, 2000.


Winnicott, D. W. (1962). Enfoque pessoal da contribuição kleiniana. In D. W. Winnicott, O

ambiente e os processos de maturação (cap. 16). Porto Alegre: Artmed, 1983.


Winnicott, D. W. (1967). D. W. W. sobre D. W. W. In D. W. Winnicott, Explorações

psicanalíticas (pós-escrito). Porto Alegre: Artmed, 1994.


Winnicott, D. W. (1988). Natureza humana. São Paulo: Ubu Editora, 2024.


Cuidado Psicologia. CNPJ: 51530674/0001-39

Psicóloga Simone Santana Gomes. CRP: 06/110051

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